Editorial

Crimes óbvios e esperados

Os graves ataques ocorridos no domingo em Brasília são chocantes, mas de forma alguma podem ser considerados surpreendentes. Isso porque qualquer cidadão com um celular, acesso às redes sociais e o mínimo de atenção aos acontecimentos foi capaz de, ao longo dos últimos meses, perceber que algum tipo de investida contra a democracia brasileira estava sendo preparada. Visão fortalecida por incontáveis reportagens em que a imprensa trouxe à luz articulações golpistas, inclusive com financiamento de empresários. Sem contar, ainda, projeções de analistas políticos não só do Brasil. O avanço extremista era tão óbvio que se poderia enxergar a olho nu a um continente de distância.

Se não surpreende, a revolta criminosa de milhares de extremistas provoca espanto pela dimensão alcançada. Inevitavelmente comparado à invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, o ataque da extrema-direita verde e amarela foi ainda mais ousado e violento. Enquanto os bandidos norte-americanos concentraram-se sobre o Parlamento, no Brasil os milhares de canalhas lançaram-se às três referências da democracia no País: o Congresso Nacional (Legislativo), o Supremo Tribunal Federal (Judiciário) e o Palácio do Planalto (Executivo). Ousadia jamais vista na história republicana.

O quebra-quebra promovido nos três poderes e que a muitos espanta e causa revolta é, na verdade, o menor dos problemas. Os danos materiais, a depredação de patrimônio e a perda de itens históricos são apenas parte visível da mais atrevida tentativa de golpe de Estado já impetrada por um grupo político, ao menos desde 1964. O mais grave de tudo isso é que tal golpismo é organizado e ensaiado pelo ex-presidente e seus mais fanáticos apoiadores desde 2019 e, no domingo, ficou mais transparente que nunca a colaboração golpista de agentes públicos e até de órgãos e corporações da República. Prevaricação e outros tantos crimes previstos na legislação do País.

Desde que foi controlada a intentona bolsonarista, algumas centenas de pessoas foram detidas, identificada e presas. Contudo, é pouco. Por todo o Brasil há responsáveis pelo que ocorreu. Agentes políticos que jogam gasolina na fogueira com declarações e publicações em redes sociais estimulando a revolta ou, cinicamente, tratando tais crimes como “manifestações”, “protestos”, insatisfação”. Inclusive figuras locais, da Zona Sul. E empresários de todo o Brasil, da mesma forma, bancando afrontas antidemocráticas.

O Brasil viveu seu maior vexame internacional e afronta sem precedentes à democracia desde que foi restabelecida. O que representa, na prática, um ultraje ao povo brasileiro. Há responsáveis, o crime tem digitais, provas, assinatura. É hora de, como nos Estados Unidos, apurar com rigor. E punir exemplarmente.​

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